Guillermo del Toro e seu amor pelo estranho


ALERTA! ALERTA! Douglas Joker está sem tempo! Estou com menos tempo que o Geoff Johns! Só vou fazer essa análise porque tinha meio que "prometido", então não sei se algum de vocês tava esperando, não queria desapontar. Vou analisar o "A Forma da Água", que a essa altura eu acredito que todo mundo já tenha visto. No cinema mainstream popular, o del Toro deve ser um dos nomes que mais chama a atenção, talvez nem tanto pela habilidade na direção, mas pela quantidade enorme de projetos em que ele se envolve, às vezes nem como diretor, mas com roteiros e videogames.


A história não vai além do que conta o trailer, inclusive não senti surpresas no roteiro. Na época da Guerra Fria, uma faxineira muda, a Eliza, entra em contato com um monstro aquático que está preso pra estudos do governo americano. O bicho é super parecido com o Abe do Hellboy, mas é só até o ponto em que parecia pelo trailer mesmo, o jeito e história dele são próprios. Todo o design do filme é muito interessante, difícil não lembrar do jogo Bioshock, não só pelo visual, mas também pela trilha sonora peculiar extremamente forte, que quase não para de movimentar o filme. Não me surpreenderia inspiração do del Toro ter vindo daí, já que hoje em dia videogames sofrem bem menos preconceito e o mexicano é fã dessa mídia não é de hoje (como dá pra notar pela foto com o game designer, Hideo Kojima, acima), inclusive já disse que adoraria adaptar o game pra telona se tivesse a oportunidade.


O vilão é o Michael Shannon, que reprisa sua incrível capacidade de fazer uma puta cara de mal. Como coadjuvante há Octavia Spencer, ficando cada vez mais famosa, chega a ser estranho vê-la fazendo um alívio cômico depois dos últimos papeis marcantes. Além do romance principal entre a faxineira muda (Sally Hawkins) e a criatura (Doug Jones), há subtramas com os personagens secundários que representam minorias sendo injustiçadas, havendo racismo, machismo, homofobia e assédio sexual. Além das músicas que dão um tom exótico e sapateados que já tem cheiro de Oscar, esse aproveitamento do filme de tratar... todos os assuntos sobre injustiça que estão em alta ultimamente, provavelmente ajudou o filme a concorrer a tantos prêmios, o que foi bem inesperado, levando em consideração como essas premiações costumam desprezar trabalhos de fantasia. As únicas exceções que me lembro são Senhor dos Anéis e Labirinto do Fauno, que é do mesmo diretor do Forma da Água. O próprio del Toro deve se identificar bastante com esse levantamento em "resposta" à vitória do Donald Trump, sendo ele próprio mexicano.


Eu não gosto de tratar tudo politicamente, ainda mais fantasia, mas tinha estranhado todas as indicações (e algumas vitórias) pra um filme desse tipo, essa parece ser a explicação, a forma que ele casa bem com a situação política, o que é sempre bem levado em consideração nessas premiações. Mostrar americanos católicos, preconceituosos e tarados é exatamente o que tem sido clamado. Não que ele não mereça os créditos, tudo é muito bem dirigido, e como eu disse, toda a estética e até a sonoridade são diferenciados, é um filme constantemente curioso de ver e ouvir. Fico feliz que um diretor que sempre se mostra tão determinado a fazer coisas diferentes em universos fictícios esteja conseguindo esse reconhecimento colossal, sinal que ele passará um bom tempo podendo liderar o projeto que achar melhor. Vale lembrar como há pouco tempo negaram pra ele fazer a terceira parte do Hellboy... Sem dúvida os babacas devem estar no mínimo pensando sobre a escolha que fizeram.


Parei. A própria origem da ideia mostra a autenticidade do cara. Ele havia visto o filme do monstro marinho quando criança e ficado decepcionado com ele e a garota não poderem ficar junto, daí resolveu fazer sua versão. Interessante ressaltar como esse filme apesar de ter um monstro aquático COM CERTEZA não é pra crianças. É 100% adulto, violência, nudez e sexo explícitos. Não serve pra apelar, tem sempre a ver com a história. Eu particularmente gosto quando esses elementos são usados em filmes que não são necessariamente sobre esses temas, como parte da narrativa. Só aumenta a censura, mas não parece ter sido um problema.


Apesar de ter pessoas que foram ver comigo e chegaram a chorar, devo dizer que não consegui me sentir tão envolvido. O vilão causa repulsa, mas não consegui simpatizar tanto pelo casalzinho principal. O problema não é da atuação, os dois são muito bons, acho que é a história mesmo. Acontece que com tantos fatores, espionagem, monstros, violência e preconceito, "A Forma da Água" nunca deixa de ser um romance, e eu não sou grande fã de romances, tem que ser muito intenso, que não é o caso. Como um filme mais sensível envolvendo um monstro, sinto muito, mas não superou minhas referências como "A Bela e a Fera", "Shrek", "King Kong", "Piratas do Caribe" ou até o próprio Hellboy. Nesse sentido eu senti que ele foi só mais um, ainda prefiro outras coisas que o cineasta fez, mas justamente por isso aguardo que suas escandalosas TREZE indicações ao Oscar abrirão portas pra mais coisas estranhas desse tipo conseguirem mais seriedade e reconhecimento.


Apesar de tantos recentes fracassos, o que eu admiro no del Toro é que nos seus gostos que misturam videogames, fábulas, quadrinhos norte-americanos, drama e ficção científica, ele parece reconhecer o valor que tem essas coisas e tratá-las com a seriedade que merecem, é algo que admiro independente dos altos e baixos que a carreira dele passou. Tem muitos artistas que não se importam de banalizar o que eles mesmos tão fazendo, isso é muito chato pra quem curte aquele nicho. Eu detesto ir ver um filme de ficção científica e perceber que ele tá fake, ou ver uma banda de um gênero que eu goste e perceber que eles só fazem um feijão com arroz genérico, acredito que não seja só eu, tem nada pior pra quem é muito fã de alguma coisa. O del Toro parece ter esse genuíno amor pelo estranho, o que me passa a impressão que todas essas inacreditáveis vitórias que ele está coletando são grandes vitórias pra todos nós que curtimos coisas desse estilo, independente de "A Forma da Água" ser um expoente de criatividade ou não, o acontecimento é notável. 

No aguardo pelo (estranho) futuro.

O que o mexicano fez com Hellboy, Blade além dos trabalhos autorais faz com que eu sempre me interesse pensando como seria se ele produzisse algo como Star Wars, Monstro do Pântano ou Quarteto Fantástico...

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